sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Segundo o governo em outubro, Pré-sal só se inviabilizaria com barril a US$ 45, mas a dívida é 4 vezes a geração de caixa

Pré-sal só se inviabiliza com barril a US$ 45, diz Governo


Dado Galdieri/Bloomberg

Funcionários da Petrobras em uma plataforma de petróleo em construção na bacia de Angra dos Reis
Fernanda Nunes, do Estadão Conteúdo
Antonio Pita, do Estadão Conteúdo
Vinicius Neder, do Estadão Conteúdo

Rio - Duas cotações do barril do petróleo balizam os investimentos da Petrobras e nortearão o Plano de Negócios 2015-2019 da estatal, aguardado ainda para este ano.

Segundo fontes do alto escalão do governo, enquanto estiver acima de US$ 60, não haverá necessidade de rever projetos e reduzir recursos para áreas menos estratégicas que a exploração e produção de óleo e gás.

Apenas se o preço despencar até US$ 45/barril, hipótese descartada pelo governo, o desenvolvimento do pré-sal seria inviabilizado.

Os valores são o limite para cobrir o custo médio do capital. "Cada dólar a mais (em relação aos US$ 45) é lucro para a empresa, porque supera o custo do capital. A empresa está muito bem protegida", afirmou uma das fontes.

A visão diverge das avaliações do mercado. Na última semana, o valor do barril de petróleo tipo Brent oscilou de US$ 80 a US$ 85, depois de, por quase três anos, ter se mantido na faixa de US$ 100, chamando a atenção de analistas, que divulgaram relatórios traçando cenários difíceis para a Petrobras.

No governo, a análise é que a queda apenas reforça o caixa da Petrobras num primeiro momento.

A estatal comemora a redução dos gastos com importação e o fim da defasagem com os preços internos, que esteve em média 17,3% abaixo dos valores internacionais, segundo relatório do Crédit Suisse.

Além disso, comemora redução no pagamento de impostos, que considera a cotação no mercado externo. No médio prazo, a perspectiva é de retração dos custos de produtos e serviços, que costumam acompanhar o preço do Brent.

"A questão é quanto tempo durará essa fase de redução do preço do petróleo. Em seis meses se sustenta. Em um ano é mais difícil. Em dois ou três anos, mais ainda", afirmou.

Estrutural

Se o governo não aposta neste cenário, analistas de mercado já simulam impactos de uma queda mais acentuada e duradoura, embora sem consenso.

Para o consultor John Forman, ex-diretor da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), as mudanças nas cotações são estruturais, por causa da oferta de gás e petróleo de folhelho nos Estados Unidos.

"A tecnologia está transformando os EUA em exportador. É um impacto danado", explica.

A agência de classificação de risco Moody's estima que a cotação chegará a US$ 70, em função também da conjuntura política no mundo árabe.

"A demanda continua forte, e há excesso de oferta mesmo com o baixo crescimento global", diz a analista Nymia Almeida. "Abaixo disso, alguns projetos ficariam inviáveis", completa.

Países como o Canadá, produtores de um óleo de pior qualidade e custo alto, não conseguiriam produzir com uma cotação a níveis muito baixos. Assim, a oferta cairia, levando a um novo aumento de preços.

Vazio

O momento, segundo a analista, requer corte de custos entre nas empresas. O baixo custo de extração no pré-sal sustenta a rentabilidade mesmo no cenário ruim, embora com retorno mais demorado.

O custo médio é de US$ 14,80 por barril de óleo equivalente. As fontes do governo reiteram a "tranquilidade" de que o pré-sal e os investimentos da Petrobras estão garantidos.

Nesse ponto, o mercado alerta para a metade vazia do copo. Relatório do Citibank calcula que, com o barril a US$ 90, o fluxo de caixa operacional ficaria pressionado e a Petrobras poderia ter dificuldades para alcançar a meta atual de investimentos.

A previsão apenas na área de exploração e produção são da ordem de US$ 35 bilhões anuais até 2020.

O lucro também tende a ser menor. Segundo o Itaú BBA, sem reajustes de combustíveis até o fim de 2015 e com o barril a US$ 80, o lucro líquido da Petrobras seria 17% menor que o projetado inicialmente, em R$ 21,6 bilhões.

O governo rechaça nova capitalização ou emissão de ações - ao menos neste ano.

O tamanho da dívida é beira a marca de quatro vezes a geração de caixa, o que pesa negativamente. Reajustes de preços de combustíveis para gerar mais caixa são considerados improváveis com o petróleo mais barato lá fora.

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