sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Delfim Netto detona Dilma e explica por que se afastou: “era inútil falar”

Ex-ministro marcou posição sobre seu distanciamento da presidente, que começou a ser demonstrado nos artigos publicados em jornais a partir de 2012

CAMPOS DO JORDÃO - O ex-ministro Delfim Netto marcou posição e se mostrou bastante contrariado em relação aos rumos tomados pelo governo Dilma durante debate no Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais da BM&FBovespa, que acontece em Campos do Jordão (SP). Tido como um dos conselheiros mais próximos de Lula quando ele era presidente e depois de Dilma no início de seu primeiro mandato, Delfim disse que começou a se afastar a partir de 2012, publicando artigos na Folha de S.Paulo e no Valor em que demonstrava não concordar com o que a presidente estava fazendo. “O limite superior da minha tolerância foi quando ela transformou dívida pública em superávit primário. Aí eu parei porque era inútil falar”, disparou.

Outras frases bastante contundentes de Delfim contra o atual governo foram: “Somos vítimas da esquerda infantil” e “As pessoas creem que o estado cria recurso”.

Durante sua apresentação, o ex-ministro trouxe dados históricos para mostrar como o câmbio ajuda a explicar por que o Brasil não cresceu nos últimos 30 anos. Os números mostram que a indústria brasileira murchou no período e o setor de serviços passou a liderar a economia. Os diversos governantes que assumiram o poder nestas três décadas até tentaram socorrer a indústria, “mas houve um erro de avaliação de que faltava demanda”. Só que havia demanda: o consumo estava crescendo forte. Então os estímulos levaram somente a um aumento de importações, e não ao aumento da produção interna.

Esse tipo de política se intensificou no primeiro governo Dilma. “As tentativas do governo de reanimar a indústria consumiram 1,1% do PIB por ano desde 2012, mas não surtiram efeito porque foram estímulos à demanda, que levaram a mais importações. A indústria perdeu exportação e ainda perdeu o mercado interno para importações.”

Delfim também disse que o Brasil foi bem-sucedido em aumentar as exportações de minerais, combustíveis e produtos agrícolas, mas fazia muito mais sentido em concentrar os esforços em aumentar as exportações de manufaturados.

Ele também demonstrou que no chão da fábrica a produtividade do Brasil é muito parecida com a da Alemanha e dos EUA. O Brasil não é competitivo fora da fábrica. O custo da matéria-prima no Brasil é muito superior ao da Alemanha por tarifas alfandegárias. Mas as taxas de juros do capital de giro e os impostos não-recuperáveis das exportações são o que mais atrapalha. “O Brasil não cresceu porque a política econômica roubou da indústria as condições isonômicas de competitividade. Na China, até as indústrias pouco produtivas são competitivas. No Brasil, nem as industrias produtivas são competitivas”, finalizou ele.

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