sábado, 18 de março de 2017

Saiba quais problemas foram encontrados em cada empresa citada na Operação Carne Fraca

ÉPOCA NEGÓCIOS ONLINE


(FOTO: JONAS OLIVEIRA/ANPR)



A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (17/03) a Operação Carne Fraca, para combater a corrupção de agentes públicos federais e crimes contra saúde pública cometidos pelos maiores frigoríficos do país. No despacho da ação, são citadas as empresas BRF, Seara (do grupo JBS), o Grupo Peccin e o Frigorífico Souza Ramos. Veja quais são as infrações cometidas por elas, de acordo com a Polícia Federal (PF).
BRF

Segundo o despacho, a BRF tinha 74 granjas de frango e 75 de peru não registradas no Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA) — duas delas com incidência de salmonela. Em conversa telefônica gravada pela PF, dois funcionários da empresa se mostram preocupados com uma nova norma técnica que determinava que as granjas sem esse registro seriam submetidas à fiscalização seria mais rigorosa.

O gerente de gerente de relações institucionais e governamentais da BRF, Roney Nogueira dos Santos, teria trocado favores e enviado produtos para que a unidade da BRF em Buriti, que não tem licença para abater perus, continuasse exercendo a atividade.
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Em outra ocasião, Roney Nogueira dos Santos teria "apoiado" uma campanha eleitoral e dado produtos a Dinis Lourenço da Silva, chefe do Serviço de Inspeção de Produto de Origem Animal (Sipoa)/GO, do Ministério da Agricultura (MAPA), para que ele evitasse a suspensão da unidade de Mineiros (GO) da BRF.

A BRF teria ainda pago a viagem da chefe do Serviço de Inspeção de Produto de Origem Animal (Sipoa)/PR, do MAPA, Maria do Rocio, à Holanda, Bélgica e Alemanha, para que ela inspecionasse uma tecnologia de abates de aves numa velocidade acima de 10.000 aves/hora por linha de abate. Antes da viagem, o Ministério da Agricultura não permitia o abate a velocidade acima desse limite, e, depois, aprovou o aumento da velocidade para 12.000 aves/hora.

Há indícios, segundo o despacho, de que Roney Nogueira dos Santos teria mandado reprocessar aproximadamente 700 quilos de mortadela que teriam sido considerados inadequados, “a fim de viabilizar que produtos impróprios para consumo fossem reincluídos na cadeia de produção e oferecidos ao público”.

Outro lado
Em nota enviada à imprensa, a BRF informa que "está colaborando com as autoridades para o esclarecimento dos fatos". A companhia disse que cumpre as normas e regulamentos referentes à produção e comercialização de seus produtos, possui rigorosos processos e controles e não compactua com práticas ilícitas. "A BRF assegura a qualidade e a segurança de seus produtos e garante que não há nenhum risco para seus consumidores, seja no Brasil ou nos mais de 150 países em que atua".
Seara

Fiscais do Sipoa/PR, do MAPA, teriam assinado certificados para liberação de cargas para exportação sem qualquer procedimento prévio de fiscalização, em troca de produtos.

Outro lado
Em nota, a JBS (dona da marca Seara) afirmou que "no Brasil, há 2 mil profissionais dedicados exclusivamente a garantir a qualidade dos produtos JBS e das marcas Friboi e Seara". A empresa diz que "no despacho da Justiça, não há menção a irregularidades sanitárias da JBS. Nenhuma fábrica da JBS foi interditada", e que apenas um funcionário da unidade de Lapa, no Paraná, foi citado na investigação. "A JBS não compactua com desvios de conduta e tomará todas as medidas cabíveis".
Grupo Peccin

O despacho cita “falcatruas perpetradas para não desperdiçar alimentos podres, vencidos, doentes e mal estocados”. São citadas:

- Presença de analito amido e nitrito/nitrato em salsichas e linguiças vendidas pela empresa, em níveis superiores ao máximo estipulado pela legislação, e de aditivos não previstos pela legislação e não declarados no rótulo.

- A manipulação de estoques e de amostras a serem enviadas para análises laboratoriais de qualidade, de modo a fraudá-las

- Carne de cabeça de porco na composição de embutidos — o que é proibido pela legislação

- Ausência de refrigeração em carreta que carregava carne mecanicamente separada (CMS), usada nos produtos

- Em ligação telefônica, interceptada pela PF, os sócios se referem a presunto podre que poderia ser usado para a produção alimentícia, pois estava sem cheiro

A empresa teria ainda pago propina aos fiscais agropecuários para que eles ignorassem as práticas sanitárias irregulares.

A médica veterinária e responsável técnica pelo controle de qualidade da Peccin em 2014, Joyce Igarashi Camilo, confirmou a utilização de carne mecanicamente separada (CMS) na fabricação dos produtos, no lugar da carne regular. Segundo ela, sequer chegou a existir a entrada real de carne na empresa, exceto carregamentos de carne estragada. Segundo Joyce, a Peccin utilizava ácido ascórbico para maquiar as carnes estragadas. De acordo com o despacho, carne mecanicamente separada é produzida a partir do processamento de restos de carcaças de animais.

A reportagem não conseguiu contato com o frigorífico.
Frigorífico Souza Ramos

O frigorífico é acusado de fornecer produtos para merenda escolar em desacordo com os termos contratados — havia divergência entre a formulação dos produtos e os seus rótulos. No rótulo da salsicha de peru, por exemplo, não constava a matéria prima mais usada no produto: carne mecanicamente separada de peru. No produto, que supostamente era de peru, constava também carne de frango, o que tampouco estava no rótulo.

A reportagem não conseguiu contato com o frigorífico.
Frigorífico Larissa

A empresa foi acusada de diversas infrações. São citadas:

- Faturar um produto congelado como se fosse in natura, para pagar menos tributos

- Transporte de produtos fora da temperatura adequada

- Colocação no mercado de produtos vencidos - com a substituição de etiquetas de validade

- Utilização de carnes vencidas há 3 meses para a produção de outros alimentos

A reportagem não conseguiu contato com o frigorífico.

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