sexta-feira, 18 de maio de 2018

Caiu a ficha: o real não tá com nada


A queda do real se equipara à das moedas do Afeganistão e do Paquistão. E só é menos ruim do que a da Indonésia.


Por Lillian Witte Fibe



Nessa história do frenesi cambial, o que chama mesmo a atenção nem é a alta planetária do dólar. É a queda do real, de longe a maior entre quase todos os países geralmente comparados ao Brasil.


Pesos (Argentina, México), rúpias (Índia, Sri Lanka), lira (Turquia), rublo (Rússia): todos perdem, mas muito menos. Aqui, a moeda americana sobe 1,2% neste momento (US$ 1 = R$ 3,741).



É preciso procurar com lupa para encontrar perdas semelhantes. Além do rand (África do Sul) e do peso colombiano, só se encontra variação semelhante no afghani (Afeganistão) e numa outra rúpia (a do Paquistão).



Mais grave ainda é buscar alguma moeda mais desprestigiada que a brasileira. Não é possível, certo? Tem que haver alguma.


Para minha surpresa, só encontrei uma: a (também rúpia) da Indonésia, onde o dólar subiu 2% no pregão de hoje.



Ok, também temos a China, onde o dólar subiu 1,3%. Mas só porque o governo local deixou. Diante da guerra comercial declarada pelos Estados Unidos, tudo o que os exportadores querem, neste momento, é um yuan fraco.



Portanto, voltando ao real: se está tão mal na foto, com inflação abaixo da meta e reservas externas recordes, imagine o que nos espera quando nos aproximarmos dos momentos mais nervosos que costumam preceder uma eleição presidencial.



É fato que alguma fuga de divisas era esperada, e faz tempo. Mais recentemente, acentuou-se o efeito Trump: protecionismo e rompimento do acordo nuclear com o Irã. Mas são fatores que se espalham globalmente.



Por que, então, o real cai tanto e tanto mais que as outras moedas? Temo que tenha caído a ficha dos “agentes” do mercado – que, por definição, procuram antecipar fatos e tendências e vivem de ganhar dinheiro com isso. É que vem aí a hora da verdade.



Em primeiro de janeiro de 2019, um novo governo vai enfrentar o colapso do saldo primário, como bem definiu dia destes o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga. Colapso iniciado por Dilma Rousseff e afundado por Michel Temer.





Nesse contexto, importante ressaltar que o Banco Central agiu certo esta semana ao interromper a queda da Selic, a taxa básica de juros, e mantê-la em 6,5%. Diante do ataque que sofre o real, só faltava cortar o juro nominal. Aí é que os dólares bateriam em retirada mesmo. Põe colapso nisso.

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