segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Ação da fabricante de armas Taurus dobra de valor com Bolsonaro

Infomoney

Ação da fabricante de armas Taurus dobra de valor com Bolsonaro - mas movimento não faz sentido

Para parte do mercado, valorização da Taurus estaria atrelada ao avanço do candidato Jair Bolsonaro na corrida eleitoral 




(divulgação)

SÃO PAULO - Uma ação sem liquidez vê seu volume negociado saltar 118 vezes em menos de um mês, de R$ 111,86 mil em 3 de setembro para R$ 13,31 milhões em 21 de setembro. O movimento é de alta, mostrando um forte otimismo dos investidores para uma ação antes esquecida e desacreditada pelo mercado.

Trata-se do papel preferencial da Forjas Taurus (FJTA4 -13,04%), que acumula ganhos de 102,9% nesse intervalo, enquanto a ação ordinária (FJTA3 -5,79%), que possui menor liquidez, tem valorização de 112,8% de 3 a 21 de setembro. Sem nenhuma notícia nova ou mudança nos fundamentos da empresa, muitos investidores fora desse movimento questionam as razões para isso. 

Um dos motivos apontados seria a desvalorização recente do dólar, o que impulsionaria o resultado da companhia, uma vez que 67% de sua receita viria de venda para os EUA e de exportações para diversas regiões.

Porém, a interpretação de grande parte do mercado é de que essa valorização estaria atrelada ao avanço do candidato Jair Bolsonaro (PSL) na corrida eleitoral e que sua eventual vitória impactaria positivamente os negócios da Forjas Taurus. Cabe destacar que Bolsonaro é conhecido defensor do porte de armas e do maior investimento em segurança pública.


Mas há um problema com essa interpretação: o candidato do PSL já repetiu diversas vezes que, se eleito, vai "quebrar o monopólio da Taurus" no mercado de armas brasileiro. Ou seja, na verdade, a empresa sairia perdendo em caso de vitória de Bolsonaro.

Seu filho, Eduardo Bolsonaro, também já se posicionou contra a empresa. Em postagem em seu perfil no Facebook datada de novembro de 2017, ele diz que "teria orgulho da Taurus se ela produzisse material de qualidade" e questiona o monopólio do setor: "não quero quebrar a Taurus, mas como fabricantes como Glock, CZ, Sig Sauer e outras têm competência para produzir armamento de qualidade no exterior mas não podem fabricar suas armas aqui no Brasil embora tenham tentado?"

Tiago Reis, CEO e fundador da Suno Research, lembra ainda que a Frente Parlamentar de Segurança Pública, ou "bancada da Bala", é contra a Taurus, o que traria dificuldade a Bolsonaro, se eleito, em aprovar no Congresso medidas favoráveis para a empresa. 

Para Reis, o movimento é puramente especulativo e que, "na grande maioria das vezes, de fato, não apresentam motivos racionais compreensíveis para se procederem". Em relatório, Reis apontou que "repudia e recomenda a todos os investidores à não se aventurarem em processos especulativos de curto prazo, dado o alto risco envolvido em operações dessa natureza", destacando que a empresa não é uma companhia saudável. 

Reis relembrou alguns dados do balanço do segundo trimestre da Forjas Taurus que sinalizam que a empresa não vive seu melhor momento nos fundamentos. O patrimônio líquido da companhia está negativo (mais passivos que ativos) em R$ 510 milhões, tornando, com isso, a relação dívida líquida/patrimônio líquido também negativa.

"Com esses dados, não é necessário se aprofundar em maiores detalhes sobre a sua saúde financeira para constatar que, de fato, se encontra bastante preocupante a situação da Forjas Taurus nesse momento", avalia Reis. 

O forte movimento atípico descolado de qualquer novidade chamou a atenção até da B3, que pediu explicações à companhia. Em documento assinado por Thiago Piovesan, diretor vice-presidente administrativo e financeiro, a empresa esclarece desconhecer qualquer fato ou que possa ter influenciado o número de negócios ou valores negociados de suas ações. 

Na última sexta-feira, os papéis FJTA3 -5,79% e FJTA4 -13,04% até registraram expressiva queda, chegando a ameaçar reverter o movimento nesta segunda, quando subiu 10,97% na máxima do dia. Por outro lado, as ações reverteram e fecharam ambas no negativo. Por enquanto, muitos investidores ainda não compraram a ideia de que a combinação Bolsonaro e Forjas Taurus, apesar de intuitivamente parecer válida, não é a melhor aposta para os investidores.

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