segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Dando a César o que é de César



A gente termina se perdendo em etimologia e esquece o essencial. Foi Jesus Cristo o maior defensor do Estado Laico. O quê? É verdade, Jesus não se opôs às autoridades constituídas, pelo contrário disse: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” Está lá nos evangelhos. Indo mais além, Jesus percebeu que o poder do Estado aliado ao poder da religiosidade era perigoso, um pode corromper o outro. Estado e religião tornam-se inverossímeis em função quando um se apropria do outro.

Nunca tenhas medo de alguma cadeira do Estado ser ocupada por qualquer religião (católicos, espíritas, ateus, evangélicos, macumbeiros, satanistas, etc). Quer se queira ou não, é o plano de Deus. Observe, há poucos imperadores que foram tão ruins quanto Nero César. Ele empalava os cristãos, besuntava-os com betume para queimar e iluminar as ruas de Roma. Que traste! Pois bem, vem do maior cristão de todos os tempos, o Apóstolo Paulo, a seguinte afirmação aos cristãos em Roma: “Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas.” O melhor deste texto epistolar é que ele foi escrito aos romanos no tempo de Nero. O Estado Laico era uma ordenação de Deus.

No regime democrático, o povo escolhe seu representante pelo voto. É do cristão escolher em quem vai votar sem precisar estar alinhado com a posição de sua confissão religiosa. Não aceite chantagens espirituais. Não vote em alguém só pela confissão religiosa. Deus não lhe deu a missão de votar em crente, mas a de ser um bom cidadão. Até porque uma declaração religiosa pode também ser mascarada com outros interesses. Você sempre ouviu de alguém dizer que é católico mas não pratica, que é evangélico mas está desviado e por aí vai.

Atente para outro detalhe importante. Na sociedade laica, conforme o que prescreve a teoria do Estado Laico, seja ou não proveniente da Teologia, os clérigos não podem ser políticos! Ahn? Verdade. Padre, pastor, rabino, pai-de-santo, etc, deviam ser proibidos de se candidatarem exercendo a função. É simples, o leigo não é ministro. É estado laico e não clerical. Entendeu a lógica? Se o clérigo pretende se candidatar, a lei eleitoral deveria prever que o respectivo credo o autorizasse e em ato contínuo expedir uma declaração de ele não assumiria a partir daquela data funções ministeriais, até o fim da eleição e, se eleito, até ao fim do mandato. Uma licença de ordenação. A lei deveria prever ainda a impossibilidade de usar o título e, durante a eleição ou mandato, não assumir seu serviço religioso, reservando-lhe, entretanto, o direito de se expressar conforme sua crença, como a qualquer cidadão leigo. As agremiações religiosas, por sua vez, deveriam limitar o uso de seus altares para privilegiarem uma corrente política ou partido, foge da função da organização religiosa e é desonesto para com os outros candidatos. Nada demais se uma agremiação ou grupo religioso promove um debate convidando a todos, neste caso é lição de cidadania.

Eu cansei, falar sobre política que não se faz e se deve fazer é como ruminar alfafa, faz parte de um bom bate-papo mas está longe de tornar-se uma realidade. No próximo texto, falarei dos casos em que é obrigação do Estado fomentar, incentivar ou não a atividade religiosa. Usarei a Constituição. Até lá.

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Está longe mesmo de tornar-se realidade. Ás vezes penso que eles se completam, não acredito que política x religião seja uma boa parceria, no fim das contas só acaba em dinheiro afanado do povo. A duas partes são boas nisso!

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