Não para por aí: para a equipe econômica do banco, a inflação chegará a 8% no próximo ano e superará os 10% este ano; Selic deve se manter até 2017, avaliam economistas
SÃO PAULO - Em relatório, a equipe econômica do Credit Suisse traçou um cenário bastante aterrador para a economia brasileira e que deve se prolongar até 2017. Se 2015 promete ser desolador (os economistas preveem uma queda do PIB de 3,6% para este ano), 2016 não deve ser muito diferente. O Credit prevê que a economia caia 3,5% em 2015 e 0,5% em 2017, o que deve tornar a contração provavelmente a mais longa e de maior magnitude desde a década passada.
Como em 2015, o declínio do PIB em 2016 será atribuível à contração global da demanda interna, com uma acentuada redução nos investimentos e no consumo das famílias. Além disso, a queda de 12,6% dos investimentos prevista para 2016 vai continuar refletindo a elevada incerteza na economia, a baixa confiança dos investidores, as condições desfavoráveis do mercado de crédito, a menor demanda doméstica e a redução dos investimentos públicos.
O decréscimo de 4,4% no consumo das famílias em 2016, por sua vez, deve ser atribuível ao aumento na incerteza dos consumidores, redução dos empréstimos bancários e especialmente às condições adversas no mercado de trabalho. A equipe do Credit também vê redução de 4,7% do salário real em 2016 e de 1,5% em 2017. A taxa de desemprego, segundo o banco suíço, deve atingir 8,3% esse ano, 11,2% ano que vem e 12,6% em 2017.
Enquanto isso, o real deve seguir bem desvalorizado, segundo a equipe econômica do banco. Para a equipe do banco, o câmbio deve fechar este ano a R$ 4, chegar a R$ 4,70 no ano que vem e terminar 2017 a impressionantes R$ 5,00. "A depreciação adicional da moeda local será uma conseqüência da deterioração dos fundamentos domésticos, com saldos fiscais desfavoráveis, a inflação doméstica muito maior do que a média global e a apreciação do dólar americano contra a maioria das outro moedas globais", afirma.
A inflação medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) deve ficar bem acima da meta nos próximos anos. Se, em 2015, a projeção é de um IPCA de 10,7%, no próximo ano deve diminuir, mas atingir os 8% e chegar ao teto da meta em 2017, a 6,5%.
De acordo com o Credit, a desvalorização significativa do real e a crescente persistência de inflação deverão mitigar a desinflação em 2016, apesar da recessão e da deterioração no mercado de trabalho. Eles preveem uma redução da inflação de serviços de 8,1% em 2015 para 7,4% em 2016, enquanto a inflação dos preços administrados deve desacelerar de alta de 18,2% para 10,9% no período, como resultado do menor aumento das tarifas de energia elétrica, tarifas de transportes públicos e de taxas de água e esgoto.
Em relação à política monetária, os economistas do banco esperam que a Selic continuará onde está, em 14,25%, até o final de 2017, na sequência da estratégia da autoridade monetária de realizar a convergência gradual da inflação para a meta, supondo maior influência do canal da demanda doméstica, menor influência da desvalorização do real para a inflação e uma persistência da inflação mais reduzida em um cenário de recessão.
Déficit primário e incertezas políticas nos próximos anos
A contração da atividade e do declínio real da massa salarial irá reduzir as receitas do setor público, em termos reais em 2016 nas previsões do Credit. Por isso, o cenário para as contas públicas nos próximos dois anos segue desafiador. Enquanto a expectativa é de que haja um déficit primário de 1,6% neste ano, a queda será apenas moderada no ano que vem, para 1,4% e de 1% em 2017.
A baixa aprovação do governo e a base de apoio mais fraca no Congresso não devem levar a qualquer mudança significativa, afirmam os economistas. Algumas medidas podem passar, mas o Congresso não deve passar outras como a reinstituição da CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) ou mudanças na seguridade social. O pagamento significativo de juros da dívida pública e o déficit primário recorrente provavelmente devem manter o déficit nominal em um nível muito mais elevado do que a média vista desde a implementação da LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal). A melhoria esperada no déficit nominal é lenta, passando de 10,5% do PIB em 2015 para 8,0% e para 7,0%, respectivamente, em 2016 e 2017.
Balança comercial
Por outro lado, a expectativa é de que a balança comercial cresça significativamente nos próximos anos por conta da dura recessão e da forte depreciação do real. A expectativa é de uma balança positiva em US$ 17 bilhões este ano, US$ 50 bilhões em 2016 e US$ 65 bilhões em 2017.
O aumento do saldo comercial em 2016 deve ser principalmente impulsionado por uma nova redução das importações, afirma o banco, enquanto as exportações provavelmente permanecerão estáveis ??em 2016 e terão uma ligeira melhora em 2017. A expansão das exportações em 2016 e 2017 provavelmente será menor do que nos anos seguintes em meio à forte depreciação da moeda local.
"A mudança de composição das exportações do país, com maior peso dos produtos de base, o fortalecimento e expansão dos concorrentes internacionais no segmento de produtos manufaturados, a ausência de novos acordos comerciais, desde 2000, e o crescimento mais lento dos principais parceiros comerciais do país, são razões suscetíveis para que exportação não tenha uma guinada nos próximos anos", avalia o banco.
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